Saúde Mental: A diversidade humana como matéria prima

A saúde mental foi tema de mais um dia do curso online com colaboradores da Cáritas Arquidiocesana de Campinas. O palestrante, Leonardo Duart Bastos, coordena a Casa Santa Dulce dos Pobres, projeto para pessoas em situação de rua, com vistas à reinserção social, na Cáritas Campinas, onde está há 11 anos. Leo, como é conhecido por todos, foi também coordenador da Casa Antônio Fernando dos Santos, é psicólogo e psicoterapeuta, numa perspectiva psicodinâmica.

 

Atua ainda como supervisor institucional em serviços e organizações ligadas à saúde mental e políticas públicas de assistência social, é conselheiro do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente de Campinas, é membro fundador do Grupo de Ouvidores de Vozes, diretor fundador do Instituto Conduzir e presidente do Centro Educacional Integrado Padre Santi Capriotti.

 

Antes de começar, Leo convida os grupos a debater o que é loucura. Depois, retoma um pouco o assunto do dia anterior, lembrando de um psiquiatra que receitou maconha para um usuário, em substituição à droga mais pesada que fazia uso. Muitos podem confundir essa estratégia com a redução de danos, mas não é, segundo Leo. Na RD é considerado o histórico da pessoa, que participa da construção de estratégias de redução. Não há, portanto, uma base pronta e igual para todos, sobre a qual se impõe uma forma de agir. São respeitados os valores e a individualidade.

 

Processo semelhante deve nortear os conceitos de saúde mental e de loucura, segundo Leo. Para ilustrar essa afirmação, é exibido um vídeo com o professor do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Mário Eduardo Costa. Em sua abordagem, a loucura pode ser vista sob vários pontos de vista, como o médico, o artístico, o romântico e até o trágico. São várias possibilidades de conhecimento e investigação, dependendo do contexto, ou seja, da estruturação de convenções sociais.

 

Outro vídeo apresenta um pouco da obra do francês Michel Foucault, autor do livro História da Loucura, que aborda o processo de exclusão ao longo da história, das pessoas consideradas loucas. A partir do século XV, principalmente, essas pessoas passam a ser levadas para Naus (embarcações), em viagens sem volta, ou são trancadas em leprosários, onde ficavam os doentes com hanseníase, uma doença sem cura durante séculos.

 

Com Philippe Pinel, os chamados loucos, vistos como alienados mentais, são libertos das correntes para tratamento em locais específicos. Era um tratamento mais humano, para a época, em que valores como religião, trabalho e o uso da água fria como terapia de choque compunham sua base. O isolamento, porém, ainda era visto como uma forma de proteção e vigilância.

 

Atualmente, segundo Leo, esse modelo ainda é reproduzido por muitas instituições, na intenção de afastar ou apagar (higienizar) a presença de quem não é aceito pela sociedade por razões diversas, até mesmo a pobreza. São criados estereótipos da loucura, associada ao que é feio, diferente, marginal, a escória social.

 

Ser ou não ser louco, eis a questão. Uma das participantes lembrou: “Eu falo sozinha, é assim que eu lido com minha ansiedade, para muitas pessoas isso pode não ser normal porque cada ser humano vê, sente e se expressa de uma forma”.

 

“Como então pensar em saúde mental sem se despojar de rótulos, de julgamentos? Na psicologia isso fica ainda mais forte, porque ainda damos nomes e estudamos o que chamamos de psicopatologias. Mais uma vez, assim como no processo de redução de danos, é preciso ver o ser humano por inteiro. Não é só o biológico, o psicológico, o social. São todas essas coisas e ainda os direitos, a necessidade de recursos materiais, lazer e uma coisa muito importante, a espiritualidade”.

 

A espiritualidade a que Leo se refere não é a religião, mas o sentido de existir, a introspecção de valores, as razões para tomar uma determinada decisão. “Para o ateu a razão de existir é a morte, ou seja, como sabe que a vida é finita, vai aproveitá-la ao máximo”, disse Leo. É essa espiritualidade desenvolvida que nos dá a consciência da necessidade de não julgar, de entender o outro em toda sua complexidade, que é a nossa própria.

 

Leo continua: “Quem é que não alucina o tempo todo quando diz que sente borboletas no estômago, frio na espinha, nó na garganta; que nada mais são do que alucinações sinestésicas. Não dá pra patologizar todas as formas de perceber o mundo. Para os ouvidores de vozes, por exemplo, esta é uma forma de lidar com sentimentos, e para essa pessoa, as vozes que ela ouve não são algo que não existe. É preciso dialogar com o mundo do outro e não dar um antipsicótico antes de entender esse mundo. O que está por trás do que achamos diferente? É preciso dar conta de lidar com a diversidade, como forma de respeitar os direitos humanos”, concluiu.

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